domingo, 26 de setembro de 2010

Taxista filho da puta.

Eu sei uma regra que não tem exceção. "Todo taxista de Salvador é um filho da puta, esperto."

Voltando de uma viagem ao interior, cheguei na rodoviária de Salvador 5h da manhã. Essa rodoviária daqui é péssima pra conseguir pegar um táxi, muita gente tentando conseguir um, e os taxistas no esquema de fila não querem pegar corrida pra perto.

O segredo é meter a mão na porta e entrar no táxi sem dizer o destino. Foi o que eu fiz. Era uma Parati velha, o motorista era negro, aparentava uns 58 anos. Já dentro do carro, disse onde era, e o caminho que gostaria que ele fizesse, o qual seria mais rápido de se chegar até minha casa (mais barato e pior pra ele).

Tudo corria bem, o cara era calado e não dava uma palavra. O dia tava amanhecendo e eu seguia olhando a cidade pela janela e pensando: - Que corrida chata, nem vou ter assunto pra escrever.

A primeira filhadaputisse que ele fez foi passar direto no primeiro retorno e andar mais uns 400m pra pegar outro retorno mais longe. Isso é uma tática que eles sempre usam quando a corrida é perto e eles querem dar uma valorizada pra ganhar um pouco mais. Eu deixei pra lá por que seria pouco, R$1,00 a mais ou a menos, que diferença faz. Tudo seguiu bem e sem um diálogo, o silêncio permanecia no carro. Eu admirando a cidade ao amanhecer e as vezes olhando o taxímetro pra ver quanto tava marcando. Já estávamos aqui no meu bairro quando ele fez a segunda filhadaputisse, errou novamente o trajeto entrando em uma rua errada ao invés de seguir e pegar a principal.

- Oh velho. Era pra seguir ai pela principal. (¬¬)

Ele calmamente e sem dar uma palavra, entrou em duas esquerdas seguidas e voltou à avenida principal. Ta... Tinha ficado meio desconfiado, mas, deixei pra lá por que seria pouco, R$1,00 a mais ou a menos, que diferença faz.

Já estava bem próximo a minha casa era só seguir mais alguns metros e chegávamos.

- Próxima direita ai, o senhor pode entrar é o primeiro prédio da rua.

Ele parou o carro e a corrida tinha dado R$14,85. Nem foi tão cara, eu pensei, ainda vou deixar ele arredondar pra R$15,00. Peguei uma nota de R$20,00 e dei. Equanto ele se mexia procurando o troco eu abria a porta do carro e ia pegando a mala, até que ele se virou e fez a terceira e maior filhadaputisse de todas.

- Oh rapaz, só tenho isso aqui pra te dar.

O cara me deu duas moedas, uma de R$0,25 centavos e outra de R$0,10 centavos.

- É O QUE RAPAZ? (¬¬)

- É... Minha primeira corrida hoje, to sem dinheiro nenhum aqui.

- Que porra é essa véi. E ai?

- É... primeira corrida não tenho.

- Sim véi, e ai? Eu que vou me fuder?

Eram 5:30h da manhã, não tinha nada aberto pra a gente trocar o dinheiro e eu só tinha essa nota de R$20,00 na carteira. A tranqüilidade dele me irritava muito, ele não tava nem ai. Nem olhava para trás.

-É que é a minha primeira corrida do dia.

- Sim vei, e daí. Quer dizer que a corrida que era pra ser R$15,00 reais, eu vou ter que pagar R$20,00. (Quinze por que errou o caminho duas vezes, na verdade era pra ser treze )

-É por que não tenho mesmo. Só tenho isso ai.

- PORRA. EU SEI MAN, QUER DIZER QUE É ASSIM.... VOU TER QUE PERDER R$5,00 E VAI FICAR POR ISSI MESMO?

- ... (Ele mantinha uma cara sem expressão nenhuma)

-... (Eu fazia uma cara de raiva e tinha vontade de voar no pescoço dele)

R$1,00 a mais ou a menos não faz diferença, mas R$5,00 faz. Estava cansado e queria subir logo pra dormir. Dei a merda dos R$20,00 e saí do carro pra não cometer uma agressão. Me senti roubado. O filho de uma "profisional do sequisso" foi embora. Agora ele rodava com a nota de R$20,00 e provavelmente vai aplicar o golpe no próximo passageiro.

Sempre desconfie se uma corrida de táxi em Salvador estiver indo tudo bem demais. Alguma coisa está errado. (¬¬)

Click na imagem para ampliar.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Nêgo Véi e Roberto Carlos

Antes de contar a história de uma corrida, eu preciso fazer um flashback, voltar no tempo e contar como tudo começou.

Existe um ponto de táxi aqui próximo ao meu apartamento que eu sempre utilizo para pegar corridas. Uma certa época além de passar andando com muita freqüência pelo ponto, rodei bastante com os taxistas. Na maioria das vezes estava sempre com violão na mão. Logo passei a conhecer cada motorista de vista e principalmente um deles, Nêgo Véi (apelido que dei a ele). Nêgo é uma figura excêntrica, cabelo meio grisalho, barba meio branca também. Usa umas camisas florais de botão, abertas até a metade, um dente de ouro e sempre com um palito na boca.

Toda vez que passava pelo ponto ele sempre mexia comigo e falava algo tipo:

- E ai tocador, vai tocar aonde hoje?

Ou

- Esse violeiro é retado, e esse show vai ser aonde?

Até um belo dia que ia passando pelo ponto a pé, com o violão na mão. Ele viu e puxou conversa:

- Violeiro... e ai. Cadê? Da uma palhinha ai a gente?

- Haha, é que eu to com um pouco de pressa...

- Toca umazinha, só uma...

De repente, me vi parado ali. Cercado de taxistas me olhando e esperando que eu tocasse algo. Quem toca violão sabe como essa situação é horrível. Eu não sabia o quer fazer, não me vinha nenhuma música na cabeça. Só pensava que merda que vou tocar pra esses caras? Los hermanos? Nação Zumbi? Pearl Jam? Nunca devem ter ouvido falar dessas bandas. Era desesperador, olhava para o violão, olhava para os taxistas, olhava para o violão, olhava para os taxistas. Até que ouvi algum deles falar.

- Roberto Carlos. Toca uma de Robarto Carlos, pronto...

- Roberto Carlos? (pausa) Ta. Sei uma. "♫ ♪ Você foi, o maior dos meus casos. ♪ ♫ De todos os abraços, ♪ o que eu nunca esqueci... ♫ "

Senhores, adianto a vocês que naquele momento eu assinava minha sentença. Nêgo véi ficou meu fã e achando que eu era o melhor Seresteiro de Brotas. A partir daquele dia, sempre que passava por ali, ele falava algo ou me chamava pra tocar.

Passado alguns dias do ocorrido, ia fazer um som com uns amigos, domingo, no imbuí. Tinha a necessidade de pegar taxi. Fui pegar no ponto e, quem era o primeiro da fila?

Nêgo Véi tem um gol do modelo antigo, não daqueles antigões não, o modelo mais antigo que o atual, deve ser ano 99 ou 2000 por ai. Só sei que quando ta frio da um trabalho danado pra ligar. Entrei no carro com o violão...

- E ai bichão...

- Oooh Tocador. É você... e esse show vai ser aonde?

- To indo lá pro imbuí, Silver Shopping sabe onde é? Por ali.

- Claro, vai fazer seresta hoje lá é?

- Não, não. Só tocar com uns amigos.

Acho que ele me pensa que eu sou um super músico, que eu toco pra caralho, praticamente um Yamandu Costa.

- Ta tocando em banda?

- Não. to não...

- Por que rapaz? Tem que tocar... banda da dinheiro.

- É... to trabalhando e aí ando sem tempo pra tocar em banda.

- Tem um menino que mora aí na sua rua que toca em banda.

- Hum, não conheço não. É banda de que?

- A banda dele é... é no rio vermelho que ele toca. Lá naquela região lá.

- (¬¬) Haaa, mais ele toca o que?

- Ele ganha é dinheiro viu. Com a banda dele. Vejo sempre ele passando aí com o violão e tal.

- Ham. Mas ele toca qual instrumento?

- A banda dele é boa que é retada.

- Hummm

Eu comecei a perceber que tinha que esfriar a conversa, se não, ia ser essa chatice o caminho todo, e pra chegar ao Imbuí ainda faltava muito.

- Se eu fosse você, eu ia tocar com Carlinhos Brown. Por que não vai?

-Ham? Co... é... como?( ¬¬)

- Carlinhos Brown taí rico. Nasceu pobre, hoje ta rico. Se fosse tu ia tocar com ele, o negão bota pra fuder véi.

- ham... Mas...

- Hahahaha. Com aquela badega de nariz dele. É... sacana, o negão taí cheio de dinheiro e cheio de mulher. Tu tem que se juntar com ele.

Ele falava sério mesmo, como se Carlinhos Brown fosse meu vizinho e um belo dia eu acordasse e batesse na porta dele – Carlinhos, eu vou tocar com você hoje viu.

- É... Vou ver ai, se falo com ele.

Nêgo Véi é completamente sem noção das coisas. E ele não parava de falar e nem mudava o disco. O assusto só era música e banda... daí a pouco, já entrando pela Av. Paralela ele ligou o som do carro. Começou a tocar uma seresta bem antiga, não fazia idéia de que porra era aquela.

- Sabe tocar essa?

- Essa ai? Rapaz...

- Essa é boa heim, pra dançar agarradinho com a nêga.

- hehehehe é...

- Sabe não?

- Essa ai, não conheço não.

Deixou a música rolar por ums 30 segundos e mudou a estação do rádio. Caiu em uma músca em inglês... que eu também nunca tinha ouvido na vida.

– Sabe tocar essa?

- Essa ai? (eu fiquei com vergonha de dizer que não sabia tocar e estragar a imagem que ele tinha de mim. Eu tinha que dizer que sabia alguma) Haaaaa, ESSA EU SEI. É boa essa.

- Essa sabe? Haaaa então você é retado mesmo. Essa é ingRês né?

- Hahahaha é...

- Pera ai, deixa eu ver se você sabe mais...

Tava engraçado, mas já tava ficando tenso, imaginando se seria esse jogo do "sabe essa música" o caminho todo. Mudou a estação e caiu em um pagade baiano, Parangolé, Black style... sei la. Algo parecido com isso.

- Sabe essa?

- (¬¬) Essa? Sei também. (haaa já tava de saco cheio dessas conversas, ia dizer que sabia todas agora)

- Rapaz, você é retado mesmo.

Essa brincadeira durou o final do trajeto todo... ele mudou de música mais umas 4 vezes até que já pertinho do meu destino ele mudou novamente e caiu em...

- ROBERTO CARLOS (ele falou em alto e bom som) essa você sabe.

- hahahahaha essa eu sei. (mentira era uma musica antiga que eu não sabia tocar)

- Roberto Carlos é o rei. Ele e Michael Jackson são os reis da música.

- Hehehe verdade. Olha pode encostar ali naquele orelhão. Vou ficar ali.

- Quando você passar no ponto vou pedir pra você tocar essa.

- hahahaha pode deixar.

Desse dia em diante, toda vez que saiu de casa com o violão agora, atravesso a rua e vou para o outro lado da calçada para não passar no ponto. Paguei a corrida, não me recordo o valor, e desci do táxi com uma lição de moral. Nunca pare em um ponto de taxistas e toque uma música de Roberto Carlos.