quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Mulher no volante, perigo constante.

É com muito prazer e satisfação que começo a escrever essa estória.
Depois de uma noite daquelas, cheia de emoções e acontecimentos que vou contar para meus netos. Eu me encontrava no meio da Ladeira da Barra às 7h da manhã, sozinho, com o cabelo todo bagunçado e a camisa abotoada errada, esperando um táxi passar pra me levar em casa.
Após cerca de cinco minutos de espera, um carro passou no sentido descendo a ladeira, acenei, e fiz gesto pra fazer a volta, pois queria subir. Quando o Corsa Seddan encostou foi que tive a surpresa. Era uma mulher. Eu entrei no carro tentando minimizar a situação e fazer ela parecer normal, mas, pra mim aquilo não era normal mesmo.
- Lá em Brotas!
- Que lugar de Brotas?
- Ali, perto do Hospital Aristides Maltês.
- Hum!
Seguimos subindo a Ladeira da Barra, para descer pro Canela. Ela era Negra, uma típica mulher soteropolitana, uma roupa de baiana de acarajé cairia certinho nela. Mascava um chicletinho charmoso. Avistei a caixinha “happydent”, do lado da marcha. Pensei em pedir um, mas, senti que ela era fria e calada. Mesmo assim resolvi tentar puxar conversa...
- Rapaz, é a primeira vez que eu pego uma mulher.
- Hehe.
- Uma mulher motorista de táxi, eu quis dizer. Hehe.
- Hum rum.
- É engraçado...
- É!
- Tem muito tempo que é taxista?
- Tem.
Ela não dava abertura. Só respondia trivialmente o que eu falava e mascava o chiclete. Já estávamos entrando no Dique do Tororó e eu não estava prestando atenção no caminho, quando ouvi um barulho de buzina (PAaAaAaaAmMmMm) que me despertou para a situação. Vi que quase tinha acontecido uma batida em outro carro, na verdade não sei quem foi o errado, mas o outro motorista havia ficado muito puto e xingou bastante.
- Sua puta, barbeira. Quer morrer porra.
O outro carro seguiu na frente e o clima no táxi ficou ainda mais frio. Ela seguia calada só no chicletinho. Eu não resisti à piada, e comentei.
- Rs. Mulher no volante, perigo constante.
- É o que?
- Hehe! Nada não.
- Mulher no volante perigo constante, uma ova. Não me venha com essas piadinhas machistas não.
- Rs. To brincando...
- Se quiser, pode descer do táxi.
- NãoOo! To brincando poh.
- Ele que foi errado, tentou cortar pela direita.
- Foi... Eu vi!
- Pois é!
- Foi mal.
Depois da piadinha mal colocada eu fiquei sem graça e sem saber como puxar conversa de novo. Seguimos calados, só se ouvia o barulhinho do chicletinho. Algumas vezes tentava uma aproximação mas, sem sucesso.
- Calor né?
- É...
-É... Ta demais!
- É...
Ela conduziu o táxi com minha ajuda até a porta do meu prédio e estacionou.
- Dezoito reais!
- Ta... Toma aqui.
- Deixa te dar meu cartão, se precisar... Sempre rodo na noite.
- Ah! Eu quero. Sempre pego táxi de madrugada.
- Pronto. É só ligar.
Peguei o cartão e olhei. Lá estava seu nome, o telefone, viagens, turismo, aeroporto, ferry-Boat, atendimento personalizado para idoso, atendimento com hora marcada. Eu olhava o cartão e pensava que não podia descer do táxi sem tentar me desculpar ou tornar o clima mais amigável depois da piadinha. Mas não me vinha nada na cabeça... nada... nada... só mantinha o olhar fixo no cartão. Abri a porta do carro e pensei... “Porra, vou falar o que...?”
- É...
- Oi?
- Ahn!? Posso pegar um chicletinho?

Segue ai o cartão da Cida. Taxista, mulher e que dirige muito bem. Deixei o número oculto para manter a privacidade dela, mas se alguém quiser é só me pedir.